Saturday, 09 December 2023 19:49

Calendário Pirelli 2024, by Prince Gyasi

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O Calendário Pirelli 2024, obra de Prince Gyasi, apresentado em Londres.

A obra, denominada Timeless (Atemporal), homenageia aquelas pessoas que deixaram a sua marca e que inspiram as novas gerações. “Não nascemos sem tempo, mas acabamos por ser o tempo”, afirma o artista visual ganês, que acrescenta que os seus protagonistas, todos retratados com as mesmas cores vivas e contrastes nítidos que o tornaram internacionalmente famoso, são, para si, "uma espécie de super-heróis, mas, ao mesmo tempo, identificáveis.”

Prince Gyasi é o último dos 39 artistas a criar um Calendário Pirelli nos  60 anos de história do The Cal (1964-2024), sendo que o seu trabalho representa a 50ª edição do almanaque.

O Calendário Pirelli segundo Prince Gyasi

Quando Prince Gyasi recebeu este encargo, começou imediatamente a pensar nos protagonistas das suas páginas e no que representam para si. Ser um dos artistas mais jovens de sempre escolhidos para assumir a autoria do The Cal levou-o a regressar à infância e a pensar nas pessoas que o inspiraram ao longo dos seus 28 anos de vida.

O resultado é a história daquilo que, pelo prisma do artista, faz com que as pessoas se tornem “eternas”. Nesse sentido, Gyasi acredita que, acima de tudo, as duas chaves da equação são a perseverança e a integridade. Um dos melhores exemplos é a supermodelo Naomi Campbell, retratada sob o título “Aquela que Para o Tempo”, sobre quem o fotógrafo ganês deixou as seguintes palavras: “A Naomi é uma figura que não pertence à minha geração, mas tem sido uma referência para todos os meus contemporâneos. Isso só pode acontecer quando alguém está totalmente comprometido com o seu trabalho e as suas crenças.

O artista ganês capturou estas ideias num manifesto dedicado a “todos aqueles que deveriam ser intemporais”. O seu objetivo é encorajar todos, especialmente os jovens, a aprender, criar e, por sua vez, a inspirar-se: “Espero fazê-los compreender que podem fazer tudo o que quiserem se se empenharem e forem suficientemente persistentes” - explicou Gyasi.

O Elenco

“Todas as pessoas que fotografei souberam reconhecer as suas capacidades e estabelecer a sua posição. Encontraram o seu poder mudando os seus destinos. Isto é o que significa ser atemporal. São aquelas pessoas que colocam desafios a si mesmas, rebelam-se contra a corrente da sociedade, não se importam com a idade, a fama ou o dinheiro e desenvolvem o seu próprio talento de forma autêntica. Essas pessoas fazem coisas que podem parecer extraordinárias para muitos, mas que são normais para todos, e podem mudar o seu destino. Mesmo sem estar em primeiro plano, são capazes de perturbar a narrativa nas suas áreas ou fazer algo diferente e, nesse processo, inspirar outros.”

A lista de protagonistas do Calendário de 2024 inclui sua Majestade Otumfuo Osei Tutu II,  Rei do histórico império Ashanti, da África Ocidental, e a sua corte real, retratada no Palácio Manhyia sob o título de “A Realeza”. A atriz Angela Bassett representa “A Altruísta”; a escritora Margot Lee Shetterly e a poetisa Amanda Gorman são “O Projeto”, e a artista ganense Amoako Boafo é “A Escolhida”.

Gyasi dedicou um mês a si mesmo com o título “Detalhes”. A imagem escolhida para a capa – e também para um dos meses – evoca um “Estudioso” jovem  Gyasi, representado por uma criança, Abul Faid Yussif. Contra um fundo turquesa brilhante, Yussif é aparece a brincar com versões em miniatura de alguns dos itens que aparecem noutras páginas do Calendário como a chave que Bassett segura; os pedaços de um relógio do set de Campbell, as escadas rosa que Gorman sobe ou a mala azul transportada pelo ator, diretor, DJ e produtor Idris Elba, "O Homem Honrado”.

A superestrela e atriz global Tiwa Savage representa “A Resiliência”; o escritor, diretor e produtor Jeymes Samuel é “O Visionário”; o ex-jogador de futebol e empresário Marcel Desailly é “O Foco”, e a cantora, atriz e artista Teyana Taylor representa “O Futuro Próximo”.

A rodagem

Gyasi planeia meticulosamente cada uma das suas sessões, compondo imagens que se assemelham mais a pinturas do que a fotografias. Escolhe cada protagonista com cuidado, desenvolvendo primeiro a ideia do desenho de cada cenário e depois desenhando-o, criando um esboço antes da construção do palco. Durante as filmagens do Calendário Pirelli 2024, o processo incluiu a criação de diversos elementos, desde um relógio derretido até um coração vermelho gigante. “Sei como vou colocar o talento na minha tela”, afirmou Gyasi. “Tudo deve ser preparado com antecedência. Há que pensar sempre num plano B, não gosto de fazer as coisas no momento porque complica um pouco as coisas para mim.”

Após um dia de rodagem em Londres, Gyasi viajou para Gana com a ideia de retratar a cultura do seu país e os seus recursos naturais: “Gana é uma terra especial. É a porta para África, um lugar onde se encontra de tudo: cacau, ouro, bauxita, petróleo. Queria levar a Pirelli até lá e revelar, nas páginas do Calendário, um mundo novo que duraria para sempre, criando, talvez, novas oportunidades de desenvolvimento”.

“Depois de Botsuana, cenário do Calendário Pirelli 2008, é bom mostrar mais uma vez outro país africano, descobrir a sua cultura e o seu povo. Gana é o país mais pacífico da África. Acho que é um lugar especial e quem decidir viajar para lá sentirá a sua energia. Foi muito inspirador tirar fotografias no Gana e poder transmitir o funcionamento do país.”

Prince Gyasi

A descrever o seu percurso até se tornar artista visual, Gyasi relata um conjunto de memórias e experiências da sua infância no Gana. Dos dias que passou com o avô, músico de profissão, ao trabalho como assistente de fotografia de retratos nos mercados de Acra. Também as visitas a estúdios de gravação e emissoras de televisão e rádio com os seus pais, ambos cantores gospel.

Não estudou fotografia, mas estudou arte, nomeadamente pintura, criação de imagens, escultura e gravura. Passou muito tempo a experimentar com o primeiro programa de desenho no seu computador à procura de modos de criação infinitos. O seu objetivo era construir um estilo rapidamente identificável: “Construí uma ponte entre a pintura e a fotografia. Desta forma satisfaço os amantes da fotografia e os devotos da pintura, por isso não vou chamar a esta ponte simplesmente de fotografia, mas de arte.”

Embora tenha experimentado com câmaras no início da sua carreira, Gyasi percebeu rapidamente que um smartphone seria a melhor maneira de capturar as suas primeiras imagens. Tirou fotos de jovens moradores do modesto bairro de Jamestown, onde a sua mãe nasceu e onde fundou uma ONG dedicada à educação chamada Boxes Kids. As suas imagens contam histórias visuais que captam a atmosfera e a vitalidade da sua comunidade, propondo a sua própria narrativa das tradições da África Ocidental.

A cor é outra das chaves do trabalho de Gyasi, empregando, nas suas fotografias, séries de tons brilhantes com contrastes nítidos, muitas vezes à base de vermelhos, azuis ou rosas brilhantes, ao lado das pessoas retratadas. Esta estética ousada presenteia os espectadores com uma realidade multicolorida, muitas vezes melhorada digitalmente, refletindo as suas experiências de um mundo visto através do filtro do fenómeno neurológico da sinestesia. Desta forma, cria-se uma interação pouco convencional entre as cenas, já que é possível “experimentar” uma forma ou “ouvir” uma cor. Esse fenómeno permite que Gyasi associe palavras a cores: ele vê as quartas-feiras como água-marinha. O artista também considera o seu trabalho uma espécie de “terapia das cores” e acredita que as cores podem ter efeitos positivos na felicidade e na saúde mental das pessoas.

Gyasi adora arte, mas nutre uma paixão ainda mais profunda pela música e pelos desportos, começando pelo futebol. No passado, foi DJ e jogador de futebol.

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